sábado, 7 de agosto de 2010

Leviandade, rivalidade, ou necessidade de aparecer?

Relutei em escrever este texto, mas diante de absurdos que tenho lido, até aqui neste blog, não consegui me segurar. Desde o último dia 23 não se fala em outra coisa a não ser o embaraço entre Muricy Ramalho e CBF. Um dia antes, o Fluminense venceu o Cruzeiro no Maracanã, assumindo a ponta no Brasileirão. Poucas horas depois, às vésperas do clássico contra o Botafogo, o imponente, ou talvez onipotente mandatário da CBF, Ricardo Teixeira, telefonou diretamente para Muricy, agendando uma reunião para a manhã seguinte, em um pomposo clube de golf.

Durante o RJTV, a Rede Globo, mais especificamente o repórter Eric Faria, em link direto do tal clube de golf, triunfal, deu a notícia que Muricy era o novo técnico da seleção brasileira. Dá até pra pensar que foi algo combinado entre CBF e Rede Globo, dada a relação promíscua entre eles. Minutos mais tarde, no Globo Esporte, para aumentar minha suspeita, o mesmo Eric Faria entrevistava de forma exclusiva, o presidente da CBF, que confirmou não apenas a contratação do treinador, como garantia sua exclusividade para aquele cargo. Ou seja, ele já não era mais técnico do Tricolor. Na mesma hora estranhei o fato de ninguém no Fluminense ter se pronunciado a respeito.

Já durante a tarde, breve reunião entre Muricy, Horcades, Alcides Antunes, Celso Barros e o capitão Fred na sala da presidência das Laranjeiras. Enquanto isso, era total o alvoroço no Salão Nobre; os jornalistas todos a postos esperando a coletiva e o anúncio oficial do novo técnico canarinho. Para a surpresa dos presentes, apareceram apenas Roberto Horcades, que logo saiu para dar uma "consulta médica", Alcides Antunes e Celso Barros. Muricy estava no gramado comandando o treino. De volta ao Salão Nobre, os dois remanescentes da coletiva(Celso e Alcides) revelaram que Muricy seguiria nas Laranjeiras, e que ao contrário do que foi noticiado, não iria para a seleção, e que além de cumprir o compromisso firmado até dezembro de 2010, assinaria em breve uma renovação de contrato por mais 2 anos. A platéia ficou atônita. Muricy optou por continuar no humílimo clube tricolor, em vez de dirigir a seleção. Foi um tapa na cara dos presunçosos que deram a mudança como favas contadas. Afinal se esqueceram que Muriçoca tem como linha cumprir à risca o que combina. Principalmente foi um tapa na cara do soberano dono do futebol brasileiro, mais arrogante que a própria arrogância. Não me venham com historinhas de que o Fluminense impediu a realização do sonho de Muricy, e que é o vilão dos interesses da nação, como tentou colocar a Rede Globo em seus diferentes tipos de mídia, já que no contrato assinado pelo treinador, havia uma cláusula que previa liberação sem ônus em caso de convite para dirigir a seleção nacional. O que o Fluminense fez foi apenas expor suas razões mais do que legítimas de querer contar com Muricy até o fim do contrato, não apenas pelo contrato, mas por razões que mostrarei a seguir.

Desde 2004, quando passou a investir com mais força no futebol tricolor, a Unimed, patrocinadora do clube, tem entrado constantemente em rota de colisão com a diretoria e com funcionários contratados(jogadores, treinadores etc) graças a ingerência e conflito de interesses. Por conta disso, desde aquela época, muitos acham que o câncer do Fluminense é a Unimed, e que uma possível reestruturação do clube passa obrigatoriamente pela ruptura da parceria. Parceria essa que teima em prosseguir, para desgosto de torcedores rivais e boa parte da imprensa, que chega a torcer contra, já que vai contra a tese de gestão que eles defendem para os clubes. Obviamente não querem ser contrariados. Em parte eu concordo. A Unimed como co-gestora(em alguns momentos gestora de fato) é simplesmente um desastre, pois é comandada por um sujeito que não entende absolutamente nada de futebol, o Celso Barros. Porém como patrocinadora é excepcional. Celso Barros, apesar de não entender nada de futebol, é um senhor homem de negócios. De dinheiro ele entende e muito. Justamente por isso volta e meia acontecem os atritos com a diretoria do clube. Ele, que não é bobo, sabe que a incompetência reina no Laranjal. Sabe que não pode confiar nas raposas velhas que lá vivem, e nem no pateta mor, que por sinal é o presidente. Tudo isso, torna o clube refém de suas loucuras como gestor de futebol. Mas agora existe no Fluminense alguém em quem ele confia de olhos fechados. Dou um doce a quem adivinhar. Difícil? Pois bem, esse alguém é Muricy Ramalho, que foi escolhido a dedo por ele para comandar uma mudança estrutural no clube. Sim, Muricy, gabaritado que é, exige tudo do bom e do melhor para trabalhar. Como confia no sucesso de Muricy, e por conseqüência do Fluminense e de sua empresa, investe pesado, dá carta branca mesmo. A diretoria não palpita? Claro que não. Vale lembrar que 2010 é ano eleitoral nas Laranjeiras, e que pela primeira vez na história, houve um movimento de associação dos torcedores, que terão participação maior que a de costume no pleito. Por isso, a diretoria, quer agradar a torcida de qualquer jeito, e certamente não cria obstáculos para as mudanças no futebol. Então a guerra de rotina deu uma trégua, já que houve uma combinação de interesses em comum, tornando a cooperação entre as partes a melhor saída.

Na atual configuração, o Fluminense tem uma chance preciosa de evoluir em alguns aspectos: de estrutura, pois está em busca de um centro de treinamento próprio(olha o dedo do Muriçoca aí), de postura de jogadores(com um treinador respeitado e até admirado pelos jogadores, estes treinam com maior disciplina, pela primeira vez em tempo integral desde que me entendo por gente), esportivos(já que o trabalho é feito alçando títulos de expressão, que têm sido escassos para o clube) e financeiros(em conseqüência das conquistas esportivas, há a oxigenação da torcida, que passa a consumir em maior escala os produtos licenciados do clube, turbinando uma fonte de renda). Mesmo assim, há quem diga que o Tricolor agiu de forma pequena, perdendo a chance de ganhar visibilidade por ceder seu técnico à seleção brasileira. Chega a ser engraçado ler uma coisa dessas. Perder uma grande oportunidade de evoluir em diversos aspectos para em troca ter a "glória" de perder seu treinador pra seleção. Não me leve a mal, mas esses devaneios só podiam vir de um torcedor do clube que se vangloria de ter sido o que mais cedeu jogadores para o Brasil disputar as Copas. Esse tipo de glória, o Fluminense já tem aos montes. Pra quem não sabe, somos os pioneiros do futebol carioca. Pois enquanto o Fluminense começava com o futebol no Rio de Janeiro, os outros ainda estavam só nas regatas. O estádio das Laranjeiras foi a primeira casa da seleção brasileira, que lá venceu o Sul Americano de 1919. O primeiro gol brasileiro em uma Copa do Mundo foi marcado por um atleta do Fluminense, Preguinho. O Fluminense, honrando a fidalguia, cedeu sem nenhuma compensação, parte do estádio das Laranjeiras, seu patrimônio, para o governo estadual, para que fosse feito o alargamento da Rua Pinheiro Machado e a construção do Túnel Santa Bárbara. Pois bem, e ainda assim, tem quem diga que o Fluminense foi pequeno e mesquinho ao ter interesse de manter seu treinador, em detrimento da seleção. O Fluminense de hoje precisa de outro tipo de glórias. Precisa de títulos expressivos e avanços estruturais, tendo um projeto para isso, que gira em torno de Muricy Ramalho. Entenderam ou eu preciso desenhar?

O que mais me irrita, é ver pessoas que não têm a mínima noção do que se passa nas Laranjeiras, tendo a prepotência de saber mais que o Fluminense o que é bom para ele. Igualmente incomoda, ver pessoas que sequer conhecem o Muricy, palpitando sobre o que é melhor para ele. Quanto ao Muricy, ele é dono do próprio nariz e faz o que julgar correto e conveniente para si mesmo. Em relação ao Fluminense, como eu disse no meu primeiro texto neste blog, não é para todos entenderem. Quem entende o Fluminense, é o próprio Fluminense. E uma coisa eu vos digo: O Fluminense somos nós.