quinta-feira, 11 de março de 2010

O mito do bom fracassado


Na Copa de 2002, talvez a seleção mais prestigiada pelos brasileiros além da própria canarinho tenha sido a Coréia do Sul. Não sei como foi a repercussão em outros países, mas aqui tomamos os coreanos como um exemplo de superação. É normal o brasileiro adorar este tipo de exemplo por aqui, porque acende uma chama de esperança nele. É o que eu chamo de "O mito do bom fracassado".

O bom fracassado é aquele que não é nem cotado para ter sucesso em determinada área mas consegue a vitória pelo excesso de improbabilidades que ocorrem durante tal processo. O povo o adora porque ele não dá as caras apenas no futebol, mas também na "vida real". No entanto, nem é meu foco citar exemplos de bons fracassados, mas sim dos revezes de sua influência.

É muito legal ver um bom fracassado ganhando. Na boa, até ver o Zina conseguindo ser repórter do Pânico teve sua dose de "Gugu way of life". Há porém duas grandes questões que raramente são comentadas.

A primeira grande questão é que, com a vitória de um bom fracassado, esquecemos de ver que nem sempre as causas do bom fracassado receber esta alcunha são nobres. Em situação parecida, nem sempre as improbabilidades são tão improbabilidades assim. Citei três exemplos aqui e todos - acidentalmente ou não - se encaixam nessa questão. Lembre que o Zina foi pego com drogas por dois momentos mas continua sendo subliminarmente um exemplo de esperança, o exemplo de que para sermos um sucesso devemos simplesmente desligar o cérebro. No caso do "Gugu way of life"que citei, me referia à época em que o Gugu procurava alguém nos lixões de São Paulo, passava para ele a imagem de coitado esforçado e como "recompensa", mudava a vida da pessoa. A última vez que ele fez isto, o coitado era na verdade um bandido procurado. A casa que o Domingo Legal deu foi o passaporte do dito cujo para fugir do país. Mas o que por muito momento ficou foi a imagem do bom fracassado, do exemplo de arrancada. Finalmente voltando aos exemplos futebolísticos, a tão badalada Coréia do Sul'02 ficou no Brasil como símbolo de que o pequeno pode sim fazer frente aos gigantes. Vamos lembrar que os coreanos chegaram aonde chegaram porque sua improbabilidade estava no apito, sempre favorável ao seu lado. Este é o exemplo que queremos? Que o mais fraco só pode vencer roubando?

Indo mais além, o exemplo que queremos é que o mais fraco deve necessariamente vencer para termos um final feliz? Que somente o bom fracassado é exemplo de dedicação? A segunda questão, e ao meu ver a mais crítica de todas, é esta cultura que foi cultivada no nosso país. Só é legal quando o menos preparado vence. A vitória do Lula só seria alegre em 89 porque ele era despreparado. A Olimpíada de Matemática só é um exemplo nacional se quem ganha ouro nela é um paraplégico do interior do Nordeste. Calma lá! Não que estes bons fracassados não tenham méritos, pelo contrário, suas vitórias realmente são louváveis. Mas são tão louváveis quanto a vitória dos favoritos. É feio que o primeiro colocado do vestibular do Rio de Janeiro seja do São Bento, colégio que historicamente forma pessoas com alta qualidade de aprendizado? É feio que a França passe e a África do Sul fique pela fase de grupos na Copa de 2010, mesmo a primeira possuindo um time obviamente melhor? Se aceitarmos este tipo de pensamento, estamos negando todo o esforço que os favoritos tiveram para receber tal alcunha. Ninguém se torna favorito a toa, há todo um trabalho por trás disto. E pior do que negar o esforço dos prováveis vitoriosos é criar a cultura de que uma hora as coisas podem dar certo sem o mínimo trabalho, sem a mínima profissionalização. Que o melhor emprego vai cair nas suas mãos sem que você tenha o mínimo preparo para tal. Isto é falta de respeito com todos que investem suas vidas se preparando para fazer o melhor. Mas é agradável pensar no bom fracassado, porque de milhões, surge um que vai segurar esses milhões para sempre. É o culto ao "pensar pequeno", a cada dia mais difundido em nosso país, infelizmente.

E é por essas e outras que tem gente que prefere que o Sport seja campeão de 1987...

5 comentários:

  1. Concordo. Inclusive com a parte final sobre o Sport. Interessantes as suas colocações. De fato, não se premia o esforço de que tem condições para vencer: há uma mentalidade de que uma boa infraestrutura vence qualquer parada.

    Mas gostaria de considerar que o título do Mengão ano passado foi a vitória do improviso sobre o planejamento, a vitória de um time pior, que se preparou menos, que não tem uma diretoria séria, que não tem centro de treinamento decente, que mudou de técnico e de elenco no meio do campeonato etc etc.

    Mas o Roberto não falaria isso, pois o time dele não faz falta. O meu faz, e sou rubro-negro (o carioca, obviamente)

    abraços

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  2. Respondendo ao Vitor... Mas houve um esforço não?
    Isso é o que conta.

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  3. Bom, eu acho que em 90% das vezes o mais preparado não vence. Vence quem tem os melhores contatos ou vem de linhagem nobre.

    Vendo desse modo, o mais preparado equivale ao bom fracassado, pois os dois dividem os 10% restantes do "sucesso".

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  4. quero dizer que discordo de tudo que está escrito aqui, ou não.

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  5. Eu achei que já tivesse comentado esse post!!!
    Enfim, eu já esqueci o que ia comentar, mas 6 comentários foi bem impressionante! GO FEC! GO!

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