sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

ABC do Futebol - A letra C

Fazer biografia não faz mérito ao que cada um desses jogadores representou na história, para entender a letra C é preciso entender a dimensão da mudança que ele, grande estrela de um time avassalador provocou.

No Princípio, eram 8 atacantes, depois eles foram diminuindo, diminuindo, o defensivismo alcançou o auge na década de 60 com a sagração do catenaccio, e sua pouco permitida variação. Na Grande Inter que conquistou a Europa, eram 3 zagueiros, dois laterais (entre eles Giacinto Fachetti, talvez o segundo grande lateral ofensivo da história), dois meias centrais, um Ponta Direita (Jair) e dois atacantes.

Em 1971 quando Rinus Michels e o Ajax começaram o seu domínio europeu apareceu o espantoso futebol total, o toque de bola rápido não era novidade, o mundo já havia visto essa característica no Brasil e na Inglaterra nas últimas 3 copas, a novidade era a movimentação dos jogadores que não eram sequer fixos a uma posição. Defensores que atacam, atacantes que defendem. A origem deste futebol surpreendente pode naturalmente ser tema para uma outra coluna, já que não é o objetivo desta.

 
                          Johan Cruyff, o gênio                           Rinus Michels, o general

Nosso personagem da letra C tem um dos retrospectos mais incríveis do futebol, é considerado por alguns o segundo maior jogador da história, ídolo de dois grandes clubes da Europa, e, como eu já disse, base de um time avassalador, ou dois. Johann Cruyff nasceu em 25/4/1947 em Amsterdã e aos quatro anos chegou ao Ajax, mas não para jogar. Seu pai fornecia frutas ao clube, e, anos depois, após a morte do pai, a mãe do jogador tornou-se faxineira. Por idéia dela, ele começou a jogar aos doze anos. Cinco anos depois, numa derrota por 3x1 o jovem Crujff estreiaria no time principal do Ajax fazendo o gol do time, que terminaria aquela temporada apenas no 13º lugar.

Na Temporada 65-66 chega ao clube o já citado Rinus Michels, ex-jogador da equipe, para ser o treinador. A fórmula de jogo adotada, em que Johan, em tese um atacante ou meia atacante, ditava o jogo com um toque de bola rápido fazendo com que os jogadores se movessem constantemente. O sucesso foi imediato, o Ajax nas duas temporadas seguintes conquistou o bicampeonato holandês além de em 67 ter feito o double. Em duas temporadas Cruyff marcou 58 gols, não tardou chegar à seleção nacional, estreando em 66, aos 19 anos, contra a Hungria, ele marcaria o gol de empate no final daquele jogo. Após isto, foram mais 47 jogos e outros 32 gols marcados pela Orange. 

Na temporada 67-68 veio o tricampeonato holandês, e pelo segundo ano o jogador seria eleito o melhor jogador holandês, na época seguinte o clube alcança a final da Copa Européia de Clubes alcançando o vice-campeonato. Em 1970 o clube volta à rotina de títulos nacionais, mais um double, mas por outro lado, fica um sentimento amargo de ver os rivais do Feyenoord conquistarem a Europa, o que seria apagado no ano seguinte, em 1971. O Fantástico time venceria o Panathinaikos, treinado por Ferenc Puskas, por 2x0, Cruyff o artífice da conquista no campo, seguiria ditando o ritmo do clube, mas Rinus Michels seguiria para o Barcelona. No fim do ano, o holandês venceria a primeira das três bolas de ouro da FF que conquistou.

Em 1972 novamente Cruyff se impõe com o Ajax, a vitória de 72 foi emblemática. No Estádio De Kuip em Rotterdan, o time, agora treinado pelo romeno Stefan Kovacs, venceu a Internazionale por 2x0, dois gols de Cruyff. A emblemática vitória foi mais do que a consagração definitiva do Ajax, ela ficou conhecida como "a derrota do catenaccio" esquema tático que ajudou a Inter a se sagrar bicampeã européia.

 

Cruyff na final européia em 72

Em 1973 a série avassaladora do Ajax continua, o sexto título nacional desde que Cruryff se tornara profissional e a quinta KNVB Cup são conquistadas, o clube bateria o Bayern de Beckenbauer e o Real Madrid rumo à final em Belgrado, onde Johnny Rep marcaria aos 5 minutos o único gol contra a Juventus. Os holandeses alcançariam um patamar somente antes alcançado pelo Real Madrid de Di Stéfano, três títulos europeus seguidos. Cruyff conquistaria mais uma bola de ouro. 

Ao final da temporada Cruyff partiu, o Barcelona do companheiro Rinus Michels foi o destino e o resultado foi o título espanhol, o primeiro desde 1960. A campanha ainda contou com uma vitória extraordinária por 5x0 sobre o Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu

 
Cruyff no Barça


Era inegável o frisson que aquele time holandês causaria na copa de 74, embora a seleção nacional fosse inexpressiva, Ajax e Feyenoord conquistaram todas as Copas dos Campeões entre 70 e 73, sendo superados apenas pelo Bayern em 74. O Time seria treinado por Rinus Michels, agora treinador do Barcelona, o cenário se configuraria bastante favorável para a montagem de uma equipe extraordinária sem maiores problemas...

... mas não foi o que aconteceu, semanas antes da estréia aquele time sequer existia, uma briga de egos entre jogadores do Ajax e do Feyenoord impedia a montagem da equipe. Para a sorte do futebol, estes problemas foram superados e entrou em campo aquele time que maravilhou o mundo: jogadores versáteis que ocupavam todos os espaços do campo de uma forma incrível. A primeira partida foi contra o Uruguai, uma vitória por 2 x 0 deu vida àquele time. Era apenas a terceira partida da Holanda na história das copas do mundo, desde 1938 a seleção não jogava o torneio, e só com aqueles dois gols de Rep a seleção alcançou uma vitória em mundiais.

Melhores Momentos de Uruguai 0 x 2 Holanda

Veio a segunda partida, a seleção parou em 0x0 contra a Suécia, mas no terceiro jogo volta o espetáculo com uma vitória de 4x1 sobre a Bulgária, a seleção então avançou para a segunda fase para enfrentar Brasil, Argentina e a surpreendente Alemanha Oriental que havia derrotado os donos da casa, os irmãos ocidentais. Logo na primeira rodada, um massacre: 4x0 na Argentina, Cruyff, que ainda não havia marcado, abriu e fechou o placar. 

Holanda 4 x 0 Argentina

Na segunda rodada, a Alemanha volta a vencer, Neskeens e Resembrink fizeram os gols do 2x0, que deixaram os holandeses em excelente situação, já que possuiam melhor saldo de gols (6 contra 2), mas era o Brasil, o campeão mundial, e quem não lembra da frase do Zagallo "Nós somos os campeões do mundo, são eles que tem que ter medo da gente". O resultado da provocação é conhecido, 2x0 e Holanda na Final.


Àquela altura o mundo não tinha dúvidas de que os laranjas iriam tragar a Mannschaft de Beckenbauer, mesmo sendo os alemães campeões europeus, era evidente a superioridade do time de Cruyff, e o que era uma certeza começou a ser confirmada assim que a bola saiu, foram mais de 30 toques na bola até que Cruyff fosse derrubado na área, Neeskens cobrou e abriu o placar. Isso levava a crer que o que se veria seria um massacre, mas como já foi contado na Letra B, Breitner e Müller fizeram os gols que deram aos Alemães o título da copa

Os primeiros momentos da final de 74

Ao final da Copa, Cruyff escreveu um livro. "Futebol Total" falava sobre a campanha da Holanda, das principais seleções e se destacava por uma profecia cumprida: "A que ele não jogaria a copa de 1978 na Argentina."

 O ano de 74 terminou com a terceira bola de Ouro, A Performance na copa ainda valeu o prêmio de melhor jogador do Mundial. Cruyff não abandonou a seleção, seguiu até 77, em 76 ajudou o time a chegar ao terceiro lugar nas finais da Eurocopa .

Nos anos deste ciclo, Cruyff continuou no Barcelona, que também desembarcou o companheiro de Ajax e seleção Holandesa, Neeskens. A parceria culminou no título da Copa do Rei de 1978, Cruyff então seguiu para o futebol americano, onde jogou pelo LA Aztecs e o Washington Diplomats, em 81 voltou para a Espanha, onde atuou pelo Levante. Foi por volta desta época que a TV Brasileira divulgou amplamente uma notícia: O Flamengo poderia contratar o atleta,

Para a Temporada 81-82 Cruyff retornou para o Ajax, onde ficou por dois anos e conquistou mais dois títulos nacionais, para a época de 83-84 foi ao Feyenoord, seu último time profissional.Ao fim da brilhante carreira, Cruyff se tornou um dos mais respeitados treinadores da Europa.

Entre 85 e 88 venceu duas copas da Holanda e uma recopa pelo Ajax, foi nesta época que surgiu um dos outros 2 jogadores que se igualaria a ele com 3 bolas de ouro, Marco Van Basten.

Seguiu para o Barcelona, onde comandou a era de ouro da equipe no começo dos anos 90, nos primeiros anos Cruyff trouxe Txiki Begiristain, Michael Laudrup, Goikotxea e Stoichkov, além de ter subido para o profissional o jovem Josep Guardiola.

O Sucesso do time foi monstruoso, a recopa de 89, a copa do rei de 90, o tetracampeonato espanhol entre 91 e 94 (os dois últimos no time que tinha Romário) e a Copa Européia de 92, a primeira da história do Barça. Esse time ficou conhecido como o "Dream Team",

Cruyff deixou o Barcelona em 96, mas continuou como figura influente no clube, suas declarações ainda repercutem na mídia espanhola. Em 2008, ele voltou para o Ajax para ser diretor técnico do clube, mas sua personalidade forte bateu de frente com o treinador Van Basten e ele saiu, hoje Cruyff é treinador seleção da Catalunha.

O Principal legado de Cruyff para os times por onde passou como treinador foi o trabalho com as divisões de base, tempos após sua passagem pelo Ajax, o clube contou com sua última geração vencedora: Os Irmãos de Boer, Edgar Davids, Clarence Seedorf, Patrick Kluivert e Dennis Bergkamp foram submetidos aos métodos de treinamento de Cruyff, que colocava atacantes na zaga para fazer os jovens entenderem o raciocínio dos adversários. O resultado ao fim das contas foi que parte destes participaram do título de 95 da Liga dos Campeões, o último do Ajax.

No Barcelona o resultado também é evidente, além de Guardiola, no seu tempo também foram revelados Albert Ferrer e Sergi, além de Carles Busquets. O projeto continuado deu origem a vários outros jogadores, Carles Puyol, Pepe Reina, Victor Valdés, Giovani dos Santos, Xavi Hernandez, Andrés Iniesta, Cesc Fábregas, Gerrard Piqué e Sergi Busquets (filho de Carles). A prova plena do sucesso do modelo é o fato de o Barcelona ter hoje em seu time base (Valdés; Dani Alves, Puyol, Piqué, Abidal; Touré, Xavi, Iniesta; Messi, Henry, Ibrahimovic) 6 jogadores formados pela equipe, além de reservas fundamentais como o Talismã Pedro Rodriguez e Sergio Busquets. O modelo se perpetua, em 2006 o Barça inaugurou a Cidade Esportiva Joan Gamper e este ano troca o antigo casarão por um prédio dentro da Cidade Esportiva. Este modelo ainda será objeto de um artigo aqui

 
La Masia, residência dos jovens talentos do Barça até este ano

Por sua contribuição ao futebol, dentro e fora de campo, Johan Cruyff é uma aclamada personalidade, pelo seu futebol foi eleito o melhor jogador europeu do Século, e o segundo melhor de todos, superado apenas por Pelé. Por tudo isso, seu legado perdura.

Compilação de grandes momentos de Cruyff

Títulos como jogador:

Ajax
Campeonato Holandês: 1966, 1967, 1968, 1970, 1972, 1973, 1982, 1983
Copa da Holanda: 1967, 1970, 1971, 1972, 1983
Copa dos Campeões Europeus: 1971, 1972, 1973
Taça Intercontinental: 1972
Supercopa da UEFA: 1972, 1973
UEFA Intertoto: 1968

Barcelona
Campeonato Espanhol: 1974
Copa del Rey: 1978

Feyenoord


Campeonato Holandês: 1984
Copa da Holanda: 1984
Títulos como treinador:
 
 Ajax
Copa da Holanda: 1986, 1987
Recopa Européia: 1987
Barcelona
Copa del Rey: 1990
Campeonato Espanhol: 1991, 1992, 1993, 1994
Supercopa da Espanha: 1991, 1992, 1994
Recopa Européia: 1989
Copa dos Campeões Europeus: 1992

Individual
Balon D'or: 1971, 1973, 1974
Bola de Ouro da Copa do Mundo: 1974
Bota de Ouro da Holanda: 1984
Treinador do ano: 1987
Treinador do ano Onze D'or: 1992, 1994
Prêmio Don Balón (campeonato espanhol): 
Melhor Jogador Estrangeiro: 1977, 1978
Melhor treinador: 1991, 1992
Laureus Lifetime Achievement Award*: 2006
Cruyff foi o segundo jogador a receber este prêmio, que é multiesportivo. Até hoje apenas ele, Pelé (2000) e Beckenbauer (2007) receberam a Honraria.

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