terça-feira, 20 de abril de 2010

Ingratidão Tricolor

No fim de 2006, quando começou uma verdadeira revolução em nossa torcida, foi criado um slogan que acabou pegando, se tornando um verdadeiro bordão: " O Fluminense somos nós!". Ontem tive mais uma prova de quanto essa frase é falsa. Nós não somos porra nenhuma pro Fluminense. Nossas opiniões não valem de nada mesmo, não fazem diferença. Nós torcedores que apanhamos da polícia e tomamos spray de pimenta na cara ao tentar comprar ingressos não somos absolutamente nada. Importantes são as convicções de um patrocinador megalomaníaco e de gosto discutível, que manda e desmanda no clube, tomando atitudes as mais irresponsáveis a bel prazer.


Até setembro de 2009 o Fluminense estava entregue, fadado ao quarto rebaixamento de sua história no Campeonato Brasileiro. No início daquele mês, matemáticos davam como 95% provável o vexame tricolor(mais um), e nessa mesma época houve uma troca no comando técnico do time. Saiu Renato Gaúcho, substituído por Cuca. Os jogadores estavam entregues e a cada dia o noticiário trazia informações ruins. Fred, o astro da equipe estava machucado fazia 2 meses. Na época diziam que ele fazia corpo mole e queria forçar saída do clube. O time titular era infestado de jogadores velhos e pouco produtivos como Luiz Alberto, Ruy, Roni, entre outros. Mais alguns resultados ruins vieram e a probabilidade de tragédia subiu para 98%. Mudanças foram feitas no departamento de futebol, com a chegada de Ricardo Tenório, o que deu mais respaldo a Cuca. Então pôde fazer mudanças significativas no time, afastando os improdutivos, promovendo jovens na ânsia de ajudarem e serem reconhecidos. Deu confiança a eles, restaurando jogadores psicologicamente arruinados como Mariano e Gum. Se aliou ao Fred e deixou ele compartilhar a liderança do grupo, que foi à guerra. Foi uma série incrível de batalhas vencidas nos últimos 2 meses de 2009, inclusive contra candidatos ao título brasileiro como Palmeiras, Cruzeiro e Atlético-MG. Jogando um futebol ousado e corajoso, sempre no limite surpreendeu e encantou até aos mais céticos, que se renderam ao time de guerreiros. Não tinha como não se comover com aquele trabalho e se manter indiferente. O final pode ser resumido a este vídeo:




Mesmo assim continuaram a atribuir a ele adjetivos como perdedor, azarado, chorão. Isso é sacanagem, chega a ser maldade, falta de humanidade. Títulos? A cada apito final de campeonato, um é conquistado, pelos mais diferentes times e treinadores. Títulos de diferentes importâncias, cada um à sua maneira. Objetivamente o Fluminense de Cuca não levantou nenhuma taça, e por isso, seu comandante foi tido como inferior aos que conquistaram.Quis o destino que os cartolas tricolores vendessem Maicon para a Rússia, prejudicando o esquema de jogo do time. Quis o destino que na semi-final da Taça Guanabara contra o Vasco, Alan chutasse aquele pênalti no travessão. Quis o destino que na semi-final da Taça Rio contra o Botafogo, Fred chutasse aquele pênalti no travessão, e que Alan perdesse aquele gol feito quando vencíamos por 2 x 1, e que Rafael tomasse dois frangos, um deles com impedimento de Herrera ignorado. Quis o destino que o Fluminense sequer participasse de uma final de turno, como acontece rotineiramente. Quis o Celso Barros aproveitar a oportunidade para culpar Cuca e sacramentar o fim de um time de guerreiros que agora é história.


Cuca não é mais o comandante do Fluminense desde a última 2ª feira. Uma possibilidade de trabalho a longo prazo e de esperanças para a torcida foi novamente jogada na lata do lixo. Mesmo que venha o multicampeão Muricy Ramalho, será um alto risco, caso contrário, será mais uma trapalhada para a coleção da cúpula tricolor.


O Fluminense somos nós? Talvez. Somos apenas um dos resquícios do bom e velho Fluminense de Preguinho, Didi, Castilho, Píndaro, Pinheiro, Orlando Pingo de Ouro, Telê Santana, Flávio, Waldo, Félix, Gérson, Manfrini, Carlos Alberto Torres, Edinho, Doval, Paulo César Caju, Rivellino, Assis, Washington, Romerito, Ricardo Gomes, Paulo Victor, Branco, Delei, Renato Gaúcho, Roger entre outros tantos. Somos o Fluminense de Nelson Rodrigues e das taças empoeiradas na velha sala de troféus das Laranjeiras. Somos o resto desse velho Fluminense que às vezes tem seus lampejos chegando à final de uma Libertadores com campanha épica, ou com os guerreiros. Somos a paz do branco, a esperança do verde e o vigor do grená.


E o Fluminense de hoje? Ah, esse não tem nada a ver conosco...não é o nosso Fluminense. É um clube tomado pelos caprichos de um megalomaníaco, e que tem mais da metade de seu quadro social(aptos a votar) formado por torcedores de outros clubes, preocupados apenas se a sauna está funcionando bem, ou se a piscina está limpa...este não é o nosso Fluminense das Laranjeiras. É o Fluminense, um clube de Laranjeiras.


Texto por Renan Gomes

9 comentários:

  1. Comparar futebol com amor é dos maiores lugares-comuns que existe, mas não tem como não dizer: Flu e Unimed parece aquela relação que vive de lampejos, que estressa o cara mais do que relaxa, mas ele não termina porque não sabe o que vai ser dele com essa decisão.

    Eu particularmente acho que o Fluminense tem coisas a oferecer, mas é claro que a tendência é o cenário ficar mais humilde sem a dona, digo, a patrocinadora. Um bom dirigente, ou pelo menos, organizado, é o primeiro passo. O Botafogo tá aí pra provar que não é preciso um timaço pra vencer. E, sinceramente, não cola a desculpa que foi no Carioca: Carioca também vale e todo mundo adora ganhar.

    Quanto ao Cuca, realmente achei precipitado. Mas ele também me parece mais um "preparador" do que um "ganhador". Não acho tão preconceituosa a ideia de que ele não ganha nada, só não considero isso como um demérito gigante, porque ele já fez muita coisa boa na carreira. De repente, uma delas vai ser terminar esse namoro que, ao contrário do que a gente espera na nossa vida pessoal, não vai durar pra sempre: a Unimed e o Flu vão se separar um dia.

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  2. a Unimed hoje é um mal necessário...

    só deixará ser necessária qdo o próprio clube tomar vergonha na cara e deixar de permitir q seja refém de Celso Barros!!!

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  3. Claro que o Carioca vale. Eu por exemplo fiquei puto de ter perdido pelo 5º ano seguido. Mas acho que pelo que fez ano passado, o Cuca ainda tinha mais prós que contras, e a salvação de 2009 deveria pesar mais que a eliminação no Estadual.

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  4. Não sou tricolor, mas concordo com o que diz o Renan, aquela fuga da série B ano passado devia pesar mais. Só que, não adianta, nenhum time do Brasil pensa a longo prazo mais. O último que fez isso foi o São Paulo de Muricy. Que caiu por uma decisão precipitada na eliminação da Libertadores. Não adianta. As pessoas querem ver imediatamente.

    Mas a Unimed não é porra nenhuma de necessária. Um time do tamanho do Fluminense sempre achará bons patrocínios. Olhe o ótimo time que o Vasco conseguiu na série B (SEGUNDA DIVISÃO) com a eletrobrás. Olhe como o Fla conseguiu excelentes patrocínios depois da saída da gigante Pertrobrás. Falarei apenas dos times do Rio pois são os mais próximos e não falo do Bota pois ñ sei seus valores de patrocínio.

    Então, eu sou rubro-negro, mas infelizmente continuo sem respeito pelo tricolor carioca. Hoje, ele é apenas a terceira ou quarta força do Rio. Uma pena.

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  5. Euler, acho que você exagerou um pouco. O time que o Vasco montou pra Série B de 2009 era no máximo regular. Ótimo não era mesmo. Tanto que com a chegada de bons nomes como Léo Gago e do talentoso Dodô, além da maior utilização do promissor Philippe Coutinho, fez um Estadual bem fraco, especialmente a Taça Rio. Acho que na Série A o time de 2009 daria dor de cabeça aos vascaínos. Era um time bom o suficiente para vencer a Série B.

    Quanto ao Muricy no São Paulo, acho que demorou a sair inclusive. Em 2004, Cuca montou a base de um time vencedor, que em 2005 nas mãos de Leão ganharia o Paulista e com Paulo Autuori, a Libertadores e o Mundial. Com várias mudanças, lenta e gradualmente, Muricy modificou o estilo de jogo da equipe, só não mudou a rotina vencedora, sendo Campeão Brasileiro três vezes, de 2006 a 2008. Porém, seu longo tempo no comando da equipe do Morumbi provocou desgastes naturais, que só aumentaram após a eliminação para o Fluminense na Libertadores. Desgastes com alguns jogadores como Jorge Wagner e membros da diretoria, que pressionavam Juvenal Juvêncio a demití-lo. Creio que o hexacampeonato conquistado em 2008 seria o fim do ciclo dele no São Paulo, saindo com prestígio, e ganhando uma oportuna mudança de ares. Porém ele continuou e a situação ficou insustentável após nova eliminação, desta vez para o Cruzeiro. Não tinha mais clima.

    Agora uma coisa me intrigou. Não entendi o que você quis expressar quando disse não ter respeito pelo Fluminense. Não parece ser quanto à tradição e grandeza do clube, já que você disse que um clube do tamanho do Fluminense tem potencial para conseguir belos patrocínios. E tem mais: o São Paulo terminou seu contrato com patrocinador ano passado e tem até agora sua camisa lisinha, purinha. Não acho que seja tão fácil arrumar um bom patrocínio.

    Abraço!

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  6. Se a Unimed sair do Fluminense agora, o Fluminense tem que aceitar que está quebrado e que não briga por mais do que o rebaixamento.

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  7. É aquela coisa. A presença da Unimed nos impede de virar um Bahia(com todo o respeito que esse tradicional clube merece). E a mesma presença da Unimed, nos impede de virar um São Paulo. Pelo menos no atual cenário é assim que enxergo. Vejo a parceria como muito importante, mas extremamente nociva no modelo em que se encontra. Para isso se faz necessária uma reforma estrutural no clube para se preparar para uma futura saída. Celso Barros faz o que quer simplesmente porque temos uma diretoria muito permissiva. O cara que de alguma forma tentou frear a Unimed(Ricardo Tenório) acabou isolado e por fim demitido.

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  8. Concordo com a tese geral: Cuca nesse momento foi um injustiçado. Acho que ele fez um ótimo trabalho no Flu também nesse início de temporada.

    Sobre a questão de fundo, é um fato. Enquanto o futebol não conseguir se pagar sozinho enquanto atividade profissional, ficará refém de patrocinadores, seus mandos e desmandos. O torcedor que vai ao estádio, que assiste na televisão, que compra camisa faz sua parte. Mas o orçamento que isso gera não é suficiente para os valores exorbitantes que envolve o esporte, além da péssima gestão e da corrupção. E por que? Porque os times que se sujeitam aos desmandos do patrocinio inflacionam a atividade.

    Mirem-se no exemplo do Barcelona. Como será que eles conseguem ser um clube (não uma empresa) e ter patrocínio pró-bono (Unicef)?

    Levantei a bola... gostaria que alguém aqui do FC tentasse responder a pergunta. Seria um post e tanto!

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  9. É verdade...o Barcelona tem como tradição ter a camisa lisinha, e atualmente tem a Unicef...talvez a diferença de realidades explique alguma coisa. Prometo refletir e escrever alguma coisa depois.

    Abração!

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